O futuro depende de práticas sustentáveis atuais


A Juçaí conta como ser uma empresa sustentável na geração de alimentos e fomento da agricultura familiar

 

 

A Covid-19 não é o único grande desafio que o mundo enfrenta atualmente. Outro tema urgente é a conservação do meio ambiente. A Juçaí se destaca pelas inovações socioambientais para uso dos frutos da Palmeira Juçara na geração de alimentos e no fomento da agricultura familiar.

Desde 2007, a Juçaí vem aprimorando o método que associa preservação da espécie, geração de emprego e legalização de extratores. Em 2009, a companhia passou a ser a única brasileira a possuir o selo Mercado Sustentável da Mata Atlântica, da UNESCO. A partir de 2015, seu primeiro produto – sorbet de Juçara - foi para as gôndolas. Hoje, fornece para os estados do Rio de Janeiro e São Paulo, e para Canadá e Chile.  Em 2018, a empresa conquistou a certificação orgânica internacional americana e europeia. Neste ano, pretende ganhar o selo Reserva Biosfera Mata Atlântica, que certifica a empresa por ações de preservação do Bioma Mata Atlântica.

Para explicar como essa história de sucesso começou e as perspectivas de futuro, entrevistamos Lucas Veloso, coordenador operacional de sustentabilidade da Juçaí:

  • A Juçaí é uma empresa de negócio de impacto social, conhecida como NIS. Você poderia nos explicar melhor o seu significado e importância, sob a ótica da sustentabilidade ambiental, social e econômica?

Lucas Veloso: O projeto consiste em criar um modelo de extração do fruto da palmeira juçara totalmente sustentável, inclusivo, acessível às comunidades locais de baixa renda ao redor de bolsões do bioma Mata Atlântica e que seja replicável, de modo que a geração de valor econômico seja a força motriz na defesa do meio ambiente e na criação de um processo regenerativo destas áreas.

  • Onde começou a história de sucesso da palmeira juçara e a Juçaí?

Lucas Veloso: O projeto piloto iniciou na APA da Serrinha do Alambari, em Resende-RJ, que conta com 4.500 hectares de área nativa de Mata Atlântica. Lá, foi construída a sede da Juçaí e criamos o primeiro centro de despolpamento de juçara do Brasil, registrado no Ministério da Agricultura. Nessa ocasião, funcionava de março a outubro, de acordo com o ciclo produtivo da juçara, mas este período varia de acordo com a altitude e o clima do local onde ficam estes bolsões. Hoje trabalhamos com 11 municípios, e de janeiro a janeiro.

  • A especialidade da Juçaí é a produção do fruto original da palmeira juçara, muito semelhante ao açaí. Como é essa cadeia produtiva desde a extração até chegar à mesa do consumidor? Quantos pequenos produtores participam deste processo?

Lucas Veloso: Sim, a empresa toda baseia-se em produto oriundos do fruto da palmeira juçara. A extração começa ao raiar do dia (por volta das 5h da manhã) e, como o fruto tem até 8 horas para ser despolpado, ao meio-dia ele é recebido. Seu processo de extração dura até o final da tarde (em torno de 16h), o que gera um período de 11h de trabalho diário se olharmos a cadeia como um todo. Os frutos são entregues por coletores cadastrados, moradores do entorno, agricultores familiares, e o processamento é feito por mão de obra local proveniente da própria APA da Serrinha do Alambari. Após beneficiamento, a polpa é embalada e congelada, seguindo para nossos distribuidores que ficam à frente da parte de entrega. Em época de alta da safra, é costumeiro receber coletores de outros bolsões de Mata Atlântica para trabalho temporário, buscando complemento de renda na região.

Hoje atuamos em 13 municípios e quase 880 famílias fornecem matéria prima para nós. Tudo centrado na relação com produtores familiares via núcleos de cooperativas ou contato direto.

  • Por que a história da palmeira juçara está associada à história da Mata Atlântica?

Lucas Veloso:  A Mata Atlântica, apesar de ser um dos mais ricos biomas do planeta, também é um dos mais ameaçados. Hoje, restam apenas cerca de 7% de seus remanescentes originais em bom estágio de conservação, ao mesmo tempo em que mais de cerca de 112 milhões de habitantes, ou mais de 61% da população do Brasil, depende direta ou indiretamente dela nos 17 estados que ela toca. Das 633 espécies de animais ameaçadas de extinção no Brasil, 383 ocorrem na Mata Atlântica.

Este projeto tem um potencial de alcance sem precedentes, tanto na questão ambiental, pois grande parte desta fauna tem profunda sinergia com a juçara dentro de suas cadeias alimentares, como social, pois a população ao redor deste bioma, que se caracteriza por ter renda menor que as populações urbanas, passa a ter uma renda complementar e, em alguns casos, principal para um número irrestrito de famílias. Um coletor que extrai cerca de 100kg de fruto por dia, trabalhando por cerca de 15 dias por mês, consegue uma renda média de R$4.500,00 a R$5.000,00. O fruto da palmeira juçara possui grande semelhança com o já tradicional açaí, com grande aceitação no mercado nacional e internacional. O uso de matérias primas locais e presentes na Mata Atlântica (cambuci, amora, inhame e banana) também ajudam a fomentar ainda mais a agricultura local já presente onde não tem mata.

  • O plantio de palmito juçara é orgânico?

Lucas Veloso: Sim, todo processo de plantio segue regras orgânicas auditadas em padrões nacionais, americano (USDA) e europeu. Além disso, somos Kosher (certificação para produtos fabricados de acordo com os princípios das leis judaicas) e somos a única empresa de alimentos no Brasil a possuir o selo de mercado sustentável Mata Atlântica da UNESCO.

  1. O Juçaí também faz bem para a saúde. Qual é o seu valor nutricional?

Lucas Veloso: Nosso produto, além de orgânico, utiliza inhame como emulsificante que é considerado um grande anti-inflamatório e um superalimento, segundo a ONU. Além disso, a própria juçara é considerada a substância com mais antioxidantes entre todos os alimentos testados atualmente. Um pote de Juçaí é, além de saboroso e livre de agrotóxicos e químicas, riquíssimo em atributos funcionais para o organismo humano. Bom pra a saúde e bom para o planeta.

  • O palmito juçara é uma espécie ameaçada de extinção. Como você vê o Estado do Rio de Janeiro com a questão da conservação de espécies?

Luis Veloso: A juçara ainda é muito visada pelo seu excelente palmito, cuja exploração mata a palmeira, mas o projeto tem melhorado muito essa perspectiva. Com quase 3 milhões de sementes distribuídas e quase 17 projetos de replantio desde a fundação, a Juçaí vem melhorando o cenário. Ainda falta muito a ser feito, mas acreditamos que, com a evolução do projeto, iremos reverter esse quadro sombrio. Em breve, novos núcleos no estado irão se integrar, em especial Silva Jardim, que já está em fase de implementação.

  • Quem tem uma propriedade rural e gostaria de colaborar com a proposta de plantio de Palmito Juçara, como deve fazer para ser parceiro desse negócio sustentável? Onde poderemos saber mais sobre o projeto?

Lucas Veloso: Basta entrar em contato comigo via lucas@jucai.com.br, que vamos ao local para avaliar a possibilidade de parceira, viabilidade econômica sem custo algum. Para saber mais sobre o projeto é só entrar na nossa página www.jucai.com.br

  • Quais os próximos desafios da Juçaí para continuar crescendo sem degradar o meio ambiente?

Lucas Veloso: O grande desafio hoje da Juçaí é como lidar com o sucesso e o crescimento de forma a continuar sustentável. Logística, demanda energética e geração de efluentes e resíduos não podem passar a ser um entrave para essa questão ambiental. A Juçaí constantemente busca novas formas de resolver esses entraves procurando tecnologias e soluções que compensem os potenciais danos causados ao meio ambiente. Uma das iniciativas, por exemplo, é a utilização de energia solar e de implementação de matérias primas recicláveis ou de origem natural (plástico verde).

 

*** As opiniões expressadas pelos especialistas nos vídeos e podcasts presentes neste projeto não expressam, necessariamente, a opinião de FURNAS.


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